Os Agitados primeiros anos da República de Alagoas

 Terra natal das duas principais lideranças do novo regime instalado em 1889, não houve em Alagoas, contudo, um movimento republicano de grandes proporções. Não passamos ao largo das mudanças, é verdade. A difusão dos seus ideais se propagou através dos clubes republicanos, de uma imprensa entusiasta e às vezes até radical na sua pregação e com adeptos na capital e no interior. Até no Instituto Histórico minoritárias vozes se levantavam combatendo a monarquia. Mas o grosso da população, incluindo a elite dirigente, as oligarquias dominantes, não se comprometeu. Somente quando a notícia da consolidação do 15 de novembro ecoou forte é que o frágil núcleo republicano, espantado, viu engrossar suas fileiras como o rio se transforma de repente num imenso oceano. Nunca se viu tanto republicano confessando sua predileção.

 Coincidentemente, no mesmo dia 15 de novembro, chegava a Maceió o último presidente da província, Dr. Pedro Moreira Ribeiro, que não chegou a tomar posse, evidentemente, retomando ao Rio de Janeiro na primeira embarcação que zarpava de Jaraguá.
O Clube Republicano, para preencher o vazio do poder nos Martírios, organizou uma Junta Governativa composta pelo coronel Aureliano Pedra, Manoel Barreto de Menezes e o líder republicano Ricardo Brennand que, por sua vez, escolheu como governador provisório o comendador Tibúrcio Valeriano. Este não chegou a acomodar-se na cadeira governamental, pois foi nomeado para o cargo pelo seu irmão Deodoro o coronel Pedro Paulino da Fonseca, tornando-se, assim, o primeiro governador republicano de Alagoas.
Quem esperava um início venturoso do novo regime, um período de união, com a presença de um dos membros do lendário clã dos Fonseca, enganou-se. O adesismo, a intensa disputa entre os políticos, cada um mais ardorosamente republicano que o outro, procurando influir na administração, querendo assegurar posições de mando, em meio a um quadro de intensa turbulência na política nacional, fez turvar o ambiente e as esperanças dos idealistas. Paulino tinha uma missão difícil e uma saúde frágil, era um pesquisador, um militar, um historiador, de rígida formação moral. As intermináveis homenagens, o foguetório, as flores, os “discursos encomiásticos, era tudo adulação e hipocrisia”. Pautou sua conduta pela inflexibilidade e pela disciplina no processo de organização política estadual. Teve uma administração curta.
·         Preocupou-se com a questão sanitária e enfrentou uma grave epidemia de varíola, barrando os principais focos de infecção.  Fez campanha de vacinação, abertura das águas do riacho Maceió, criou um colégio para órfãos e um cais de embarque, este, na antiga capital
·         A elaboração da primeira Constituição Republicana do Estado.
·         Foram eleitos ainda os deputados federais e os três primeiros senadores, Floriano Peixoto, Cassiano Tavares Bastos e o próprio Pedro Paulino.

 Enquanto a situação do país se agravava com a oposição a Deodoro e depois com a sua renúncia, antevendo-se uma guerra civil, Alagoas refletia o conturbado ambiente da capital federal. Falava Pedro Paulino, com amargura, da ingratidão para com os irmãos Fonseca, só lembrada quando se queria obter favores. Impregnado de valores diferentes e mais chegado a uma noção ideal e não real da política, ele confessaria depois que não devia ter aceitado o cargo que lhe trouxe tantos dissabores no final da vida. Com o crescimento do grupo hostil a Deodoro em todo o país, ele percebeu que o mundo civil era muito diferente da estrutura linear que imprensa nas forças armadas. No episódio da escolha dos constituintes estaduais para a próxima eleição do Executivo local, que já renunciara o mandato de governador, com o forte sentido de honra dos Fonseca, desgostoso com o rumo dos acontecimentos, renunciou também ao cargo de Senador da República, afastando-¬se definitivamente da política. Morreu pobre, vivendo os últimos dias com muitas lembranças e amarguras.
Araújo Góes, baiano de nascimento, político experimentado do Partido Conservador do Império, já tendo ocupado naquele período o cargo de Presidente da Província de Sergipe, como Vice-Governador de Paulino, assumiu o posto do titular e agiu com extrema energia para conter a agitação oposicionista em todo o Estado.
  Tendo aderido ao golpe de Estado, foi deposto no mesmo dia em que Deodoro caiu e foi substituído por uma Junta Governativa, composta de dois militares e dois civis. A Junta passou, por sua vez, a chefia da administração ao Presidente do Senado Estadual, o Barão de Traipú, que se encarregou de proceder nova eleição. No cenário federal, outro alagoano, Floriano Peixoto chegava ao posto máximo, sucedendo seu conterrâneo.

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