Arqueólogos buscam resquícios das invasões holandesas.

Arqueólogos do Iphan e da Universidade Federal de Pernambuco buscam resquícios das invasões holandesas
Pesquisadores seguem a trilha dos portos às margens do rio Manguaba mapeados pelo cartógrafo holandês setecentista George Marcgraf
Fotos/ Maurício Silva
Uma parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe) resultará num curioso e imprescindível trabalho arqueológico, que mapeia os antigos portos para embarcações fluviais na região do Estado denominada pelo cartógrafos holandês George Marcgraf (1610-1644] de Alagoas Boreal. Os arqueólogos do Iphan e da universidade fizeram uma expedição pelo largo e caudaloso rio Manguaba, no trecho que liga o município de Porto Calvo ao vizinho Porto de Pedras (distantes 96 km e 110 km da capita Maceió), catalogando 12 portos criados à época das invasões holandesas na primeira metade do século 17.
Os arqueólogos pernambucanos Marcelo Libanês e Doris Walmsley fizeram essa expedição no dia 10 de dezembro, identificando e mapeando os 12 portos de Alagoas Boreal – que são conhecidos por alguns moradores dos dois municípios, interessados na história da região. Desde as ancestrais batalhas entre Portugal, Espanha e Holanda nas águas do rio Manguaba, tais portos – embora desativados para fins militares ou comerciais – continuam sendo chamados pelos antigos nomes por pessoas que conhecem a tradição do lugar.
Libanês disse que farão “cortes” para determinar alguns pontos desses velhos portos, para então “fazer o levantamento arqueológico onde ocorreram as batalhas e onde os soldados levantavam acampamentos”.
“Vamos fazer todo um estudo para conhecermos melhor o que se passava na época”, afirmou.
Porto das Barcaças
O primeiro local mapeado pelos arqueólogos, em Porto Calvo, foi o porto das Barcaças, que fica próximo ao histórico moinho Manguaba, no antiquíssimo bairro do Varadouro. Durante muito tempo, este foi o principal porto da região Norte do Estado – servindo às embarcações comerciais, que até os anos 1970 traziam mantimentos para Porto de Pedras, Japaratinga e Porto Calvo. Do porto das Barcaças, os pesquisadores seguiram para o porto da Camboa, onde atracavam as grandes embarcações setecentistas.
Marcelo Libanês e Doris Walmsley chegam ao porto do Caxangá, no povoado histórico
Daí, a pequena lancha, transportando também o secretário de Patrimônios Isaías do Santos e o diretor de cultura Adelmo Monteiro, ambos de Porto Calvo, chegou ao local onde acampavam soldados, a Ilha do Guedes. Mais à frente, o porto do Estaleiro – que, de acordo com os arqueólogos, já estava bem ali no ano de 1600. Este abrigo secular fica nas imediações do engenho Estaleiro, onde eram fabricados, como o nome sugere, diversos tipos de embarcações, além de açúcar, rapadura e a famosa cachaça Manguabinha.


O porto do Espinheiro é o quarto local identificado pelos arqueólogos. O lugar é cercado por uma vegetação extensa cheia de árvores centenárias. Em seguida, vem o porto do Caxangá, instalado no povoado de mesmo nome, cercado por um rico manguezal. O porto do Barbaço é o sexto nesse percurso fluvial em direção ao município de Porto de Pedras.

O porto de Taba, na fazenda Porto Grande, é o sétimo e o primeiro localizado à margem direita do Manguaba, já em território porto-pedrense. Logo se avista o porto Grande, oitavo ancoradouro, local cercado por uma densa floresta e também repleto de árvores centenárias.
O porto do Crasto retorna ao lado esquerdo do Manguaba e ao município de Porto Calvo. O porto na fazenda Crasto é um dos mais antigos. Nesse trecho – do porto Grande ao porto do Crasto –, as águas do Manguaba começam a ficar mais limpas e o rio com uma largura de mais de 200 metros.
O porto da Ribeira, em Porto de Pedras, é o décimo nessa viagem histórica pelo Manguaba. A densidade do rio começa a mudar com a mistura das águas marítimas. O porto do Campo Lino é o décimo-primeiro identificado pelos arqueólogos. Finalmente, o derradeiro refúgio, o porto de Pedras que, assim como o porto Calvo, originou o nome da cidade.
“Começamos esse trabalho em junho e ainda vamos visitar o rio mais vezes. Vamos percorrer os possíveis locais de batalhas e fazer um trabalho na busca de objetos históricos. Estamos trabalhando também com base em um mapa desenhado em 1637 por George Marcgraf, geógrafo e cartógrafo que veio junto com Maurício de Nassau”, informou a arqueóloga Doris Walmsley.
Os dois estudiosos do laboratório de pesquisas arqueológicas da Ufpe (o Arqueolog Pesquisas) pretendem retornar a Alagoas Boreal e dar continuidade a esses trabalhos inéditos de prospecção às margens do rio Manguaba, já no mês de janeiro.
 Maurício Silva// http://alagoasboreal.com.br

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