A PRÉ HISTÓRIA ALAGOANA



Alagoas antes de Cabral

Se pouco sabemos sobre os índios que foram encontrados por ocasião dos contatos com os europeus a partir do século XVI, imagine-­se dos nossos ancestrais que viveram aqui antes de abril de 1500. Aprendemos algu­mas coisas com os cronistas da época, nar­rações que passaram de geração em gera­ção, mas sem que fossem transmitidos em maior profundidade aspectos essenciais da época pré-cabraliana. Quase nada nos foi contado sobre essa gente. Se os seus descendentes da época dos primeiros colonizadores foram rapida­mente absorvidos como escravos ou marginalizados pelo domínio europeu, hegemônico, o que temos então da pré-história alagoana? Seria assim tão des­prezível essa tradição de tantos e tantos anos, quan­do se tem certeza da presença do homem pré-históri­cos nas plagas nordestinas em épocas pleistocênicas, anteriores a 12.000 anos, antes do presente, assina­lados nos vizinhos território da Bahia e do Piauí? Temos sim nossos sítios arqueológicos, nossa arte rupestre já identificada nos cânions sanfranciscanos, marcas de desenho na tórrida solidão dos nossos sertões ou nos sambaquis da região lacustre e cos­teira. O nosso acervo arqueológico, enriquecido recentemente pelas escavações feitas sob a respon­sabilidade da Chesf, ainda está para ser desvendado na sua plenitude. Em pré-história conhecem-se os vivos pelos mortos.


E preciso uma ação mais efetiva para conhecermos as diversas expressões do homem antes da influência do europeu, ou seja, conhecer nossos antepassados antes da chegada aqui da cruz de malta das naus cabralina.

Quais os registros iniciais desta fase?

 Há notícias de esqueletos de animais pré-históricos petrificados em Santana do Ipanema, Viçosa e São Miguel dos Campos, estando um dos maxilares desses animais sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico Alagoano. O cientista norte-americano John Casper Branner, que esteve entre nós no século passado realizando pesquisas, publicou em 1902 uma memória que trata da existência de inscrições rupes­tres de nossas avós índios e registro de fósseis de grandes animais nos sertões de Alagoas e Pernambuco.

 Ossadas fósseis foram encontradas­ no povoado de Meirus, em Campo Alegre, e até na capital, na rua do Comércio. Quando de esca­vações feitas pela municipalidade foram encontra­dos ossos animais e humanos, recolhidos por Dias Cabral.

Inúmeras inscrições rupestres foram assina­ladas em cavernas de Viçosa, Capela, Atalaia, Porto de Pedras, Anadia, Palmeira dos Indios e na Bica de Pedra, nas proximidades de Maceió. O famoso explorador inglês Richard Francis Burton, em excursão realizada em 1867 em companhia de sua mulher Isabel e do engenheir9 Carlos Krauss, encontrou em Piranhas e Olho D' Água do Casado inscrições pré-históricas nas pedras daquela região.
Igualmente as trempes, pedras de equilíbrio e as pedras de sino, foram achadas no sertão. Alfredo Brandão, em sua obra Viçosa de Alagoas, menciona um dólmen encontrado no engenho Mata Verde, em Viçosa, além de outras peças catalogadas por aquele estudioso. Mario Marroquim, ao longo de suas viagens pelo interior, colecionou inúmeros artefatos da pré-história alagoana que foram ofertados pelos seus descendentes ao Instituto Histórico Alagoano. Brandão ainda registra a presença das chamadas chãs de cacos, restos de cerâmica primitiva, em vários municípios do interior. Da mesma forma que sabemos da exis­tência de sambaquis e ostreiras, ou seja, depósitos arqueológicos costeiros formados em épocas ime­moriais De onde vieram as nossas tataravós pré- históricos? Quais as estratégias usadas por eles que permitiram a sua sobrevivência? Quais as suas influências étnicas e culturais? Polinésios, autóctones, povos asiáticos que vieram através do Estreito de Bering? Há indícios, vestígios, possibilidades, bem como hipóteses e até versões fantasiosas como a que a origem seria a de navegadores fení­cios, cretenses ou egípcios, povos dados a aventu­ras marinhas e ao comércio na antiguidade. A grande verdade é que há muito campo para pes­quisa a nenhuma certeza absoluta sobre o assunto.


 Por Luciano cavalcante.

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