As Salvações, O Governo de Clodoaldo da Fonseca.
O Governo de Hermes da Fonseca representava a volta do fator militar para a cena política. A precariedade de sua gestão já é sentida durante a campanha eleitoral, diante da dificuldade de harmonizar os interesses das lideranças dos Estados maiores, seus grandes eleitores. Dispersada a sua base, após a eleição, devido aos interesses antagônicos que representavam, Hermes procurou isolar-se com seu grupo de caserna. Não possuindo raízes na política tradicional, como seus antecessores civis fragilizados o antigo pacto imaginado por Campos Sales, viu a saída para sua sustentação na indicação de representantes seus nas unidades federativas, o que implicava na derrubada dos donos do poder estadual, daí surgindo à figura das Salvações, encarnados em militares de prestígio, que assumiriam sob a bandeira de derrubadores das oligarquias e dos salvadores das instituições republicanas. O movimento propagou-se por todo o país, principalmente na região norte, onde as oposições locais, eternamente alijadas do poder, vislumbraram a chegada do seu dia D.
O Partido Democrata, assim, que trabalhava com candidaturas simbólicas, como a de Clementino do Monte, ao assistir à bem sucedida campanha do general Dantas Barreto, ministro da Guerra, derrubando o poderoso oligarca Rosa e Silva, em Pernambuco, tenta aliciar o coronel Clodoaldo da Fonseca, chefe da Casa Militar dó Presidência da República, para ser o Salvador em Alagoas. Euclides não se considerava peça vencida; aliás, não admitia sequer chefiar uma oligarquia. Procurou fortalecer-se junto ao senador Pinheiro Machado, grande chefe político no Rio de Janeiro, e ignorar os alaridos dos opositores. Mas ele subestimara a extensão da crise que se instalava e o descontentamento provocado pelo longo domínio que exercera no Estado. Surgem nos bairros da capital, insuflados. Por vigilantes adversários, com características de sans-culotte de 1789. Cresce a força da oposição que agora envolve jornalistas, estudantes, bacharéis, artistas, até empresários como Delmiro Gouveia que, unidos no vigor antigovernamental e antioligárquico, defendem suas ambições junto com as promessas de mudança. Podemos afirmar que houve o início de um estalido social. O fato de Clodoaldo ser oficial superior, primo do Presidente da República e seu Ministro, filho de Pedro Paulino e pertencer à instituição militar que quer resgatar os ideais republicanos, transforma-se numa arma poderosa para a oposição. Concentrações, comícios diários, críticas demolidoras na imprensa, boletins acusadores distribuídos à população e a criação da Liga dos Republicanos Combatentes, sociedade carbonária, verdadeiro grupo paramilitar radical, chefiada por um combatente de canudos, o cabo Manoel da Paz, transformam a campanha ante Euclides numa verdadeira guerra. Um estado de sublevação popular, com uma perseguição aos lebas, assim chamados os partidários dos Maltas, a invasão da casa do intendente da Capital, os apupos e a agressão ás autoridades e a conclamação ao povo a não mais pagar impostos-, num gesto de desobediência civil. Até a guarda palaciana é desarmada e o Palácio dos Martírios invadido, tendo o Chefe do Executivo que sair para a capital pernambucana buscando auxílio de Dantas Barreto, seu antigo amigo, que agora não lhe dá cobertura, pois era também um Salvador. Clodoaldo, que, a princípio relutava, finalmente atende a convocação de Femandes Lima e recusa a solução conciliadora do Catete, imaginada por Pinheiro Machado com aval de Hermes, em ser ele o candidato do próprio Euclides Malta á sua sucessão. Com a sua concordância, rompe das hostes oposicionistas, como um vulcão, a campanha pró-Clodoaldo. Três fatos foram decisivos para os partidários da renovação republicana. O primeiro foi o quebra-quebra dos terreiros de xangô ocorrido em 7 de fevereiro de 1912, comandado pela Liga dos Combatentes. Ardiloso plano político onde, a pretexto de que Euclides Malta e seus correligionários do Partido Republicano Conservador afrontavam a sociedade, protegendo a prática do candomblé, a oposição acusou os euclidistas da prática de feitiçaria, invadiu e depredou os terreiros, jogando contra eles a população e, principalmente, a poderosa opinião da Igreja e do segmento social mais influente.
Os outros episódios que definiram a vitória dos salvacionistas, já com seus adversários com a autoridade reduzida a fiapos, foi o desembarque de Euclides vindo do Rio sob a proteção das forças federais, com o comércio fechado e muitos tumultos populares durante o trajeto aos Martírios e finalmente, a manifestação gigantesca contra o governo, que redundou em tragédia com vários feridos e as mortes do Secretário do Interior, Tenente Branyner, e o jovem poeta Bráulio Cavalcante.
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