Demolição de prédio histórico causa polêmica em Porto Calvo

A demolição de parte das ruínas do histórico prédio onde funcionava a antiga cadeia pública de Porto Calvo causou polêmica na cidade. O que restava do imóvel de largas paredes, que pertence ao governo do Estado, só não foi ao chão por completo, na manhã de quarta-feira (30), porque o chefe de Operações Policiais, José Cláudio, e o delegado Rubens Cerqueira impediram a ação.
Segundo o delegado, os funcionários da Secretaria Municipal de Infraestrutura usaram o nome do promotor de Justiça, Sérgio Simões, para dar legitimidade à ação demolitória. Com uma máquina retroescavadeira e uma caçamba, eles iniciaram a operação por volta das 9 horas.
“Disseram que a ordem partiu do promotor. No mesmo instante, liguei para ele, que negou. Então, determinei que o chefe de Operações fosse ao local e impedisse a demolição”, explicou Rubens Cerqueira, em entrevista ao jornal Gazeta de Alagoas, edição desta quinta-feira.
O delegado confirmou que o prédio histórico pertence ao patrimônio do Estado e que vai comunicar o caso à Direção Geral da Polícia Civil. Ele determinou, ainda, que funcionários da Secretaria de Infraestrutura recolhessem a pesada grade de ferro do antigo xadrez, removida durante a demolição. Cerqueira deseja que a peça seja guardada na delegacia para evitar que seja furtada.
Abandono
O imóvel da antiga cadeia pública está abandonado há quase 15 anos. Os serviços da delegacia foram transferidos para uma casa alugada e depois para o prédio onde funcionava a Câmara de Vereadores, atual endereço.
Ouvido pela reportagem, o promotor negou ter autorizado a demolição. Ele informou que vai encaminhar ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) solicitando informações sobre o imóvel.
“Trata-se de um prédio antigo. Dizem até que é do período da ocupação holandesa. As paredes são grossas e as grades de ferro pesadíssimas. Quero saber do Iphan se o imóvel é de interesse público. Na minha avaliação, a demolição foi absurda”, considerou Simões.
Essa não foi a primeira tentativa de demolição do prédio histórico, localizado na Travessa Paulino Silva. Em 2006, logo após a desativação da delegacia, moradores daquela área iniciaram a derrubada do imóvel, a golpes de marreta. O telhado fora arrancado. Restaram as paredes e as robustas grades de ferro.
Os moradores alegavam que o prédio abandonado servia de criadouro de insetos e roedores, além de abrigo para usuários de drogas. Caçadores de tesouros aproveitaram a oportunidade e fizeram escavações no local, em busca de relíquias da época do Brasil colônia. A prefeitura acionou o Iphan, que impediu a destruição. Havia, inclusive, um projeto do município para restaurá-lo, o que acabou não acontecendo.
Na atualidade, os moradores do entorno continuam com a mesma opinião: são favoráveis à demolição. “A gente quer que derrube mesmo. Isso só junta o que não presta: é rato, é barata, escorpião”, reagiu a aposentada Maria José, 70 anos. “Quando a gente vem da igreja, à noite, fica com medo, porque aqui é muito esquisito. Vai ser bom se demolir”, acredita a dona de casa Gerlane Francisca dos Santos, 34.
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Parte do prédio já havia sido demolida em 2006 pelos moradores
Parte do prédio já havia sido demolida em 2006 pelos próprios moradores
Esta manhã, a reportagem tentou ouvir representantes do Iphan, mas as ligações telefônicas feitas para sede do órgão não foram atendidas. Já o secretário de Infraestrutura de Porto Calvo, Alexandre Scala, negou que os funcionários da prefeitura tenham demolido parte da estrutura.
Segundo ele, o que houve foi apenas uma limpeza da área para evitar a proliferação de vetores de doenças. Scala informou, ainda, que na próxima segunda-feira vai se reunir com o promotor de Justiça para discutir a situação do imóvel. Pretende também avaliar a possibilidade de tombá-lo por meio do Iphan. As ações de limpeza, de acordo com ele, foram suspensas.
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