O Governo de Gabino Besouro e o Estado de sítio



Floriano enfrentou sem hesitar sucessivas crises e sublevações e as venceu uma a uma. Além do Exército, de que se fez ídolo, foi essencial o apoio que recebeu da classe média e da burguesia. Esta última o via como necessário para deter a ameaça do caos em que estava mergulhado o país. Por sua posição firme, inclusive na defesa da soberania do Brasil e na proteção ás aspirações popular foi chamado de Marechal de Ferro e Consolidador da República.
Em Alagoas a situação se alterava com a eleição de outro militar, o coronel Gabino Besouro para governador e o barão de Traipu para vice - governador, chapa derrotada na eleição anterior.  O novo mandatário, penedense de origem e militar, era herói da Guerra do Paraguai. Talvez por essa condição tenha sido escolhido pela oposição para fazer frente a outro militar, Pedro Paulino. Foi deputado constituinte federal, com destacada participação. Era ativo, e intransigente em suas idéias. Republicano radical, combatia as meias medidas do liberalismo civil. Suas divergências com seu antecessor, também militar, eram porque o primeiro era mais conciliador com os monarquistas, enquanto ele queria total distância dos mesmos.
Na posse de Gabino ao expor suas metas e ao verem o aspecto carrancudo do militar.
·         Traçou objetivos bem definidos de sua gestão:
·         Normatizar o serviço público, estruturar o setor fazendário, alojar as repartições em locais condignos.
·          Fortalecer o sistema de segurança, centralizando a polícia; inibir as ingerências políticas na administração.
·          Estimular o teatro como diversão
·          Elaborar um código florestal e rural, coibir o contrabando.
·          Construir prédios para abrigar os três poderes, elaborar um planejamento a médio e em longo prazo, definir uma política integrada de transportes.

Identificado com a corrente florianista, de quem era ardoroso seguidor, foi por sua conduta sendo minado pelas forças políticas estaduais, rompendo com seu, vice e com o próprio Floriano, devido às intrigas tecidas pelos descontentes.
                                     
 Alagoas a viveu um estado de sítio

A insatisfação política com a ação inflexível do governador levou Alagoas a viver em estado de sítio com a participação de soldados de linha, guarnição federal e milícias municipais e dos chefes políticos a se enfrentarem, gerando permanentes conflitos nas ruas. O Palácio foi cercado por forças federais e ele abrigou-se na casa de. Familiares do general Dantas Barreto, militar pernambucano de prestígio na órbita federal. Sua queda, porém, não foi impedida e após o poder passar de mãos em mãos, uma nova Junta Governativa declarou o cargo vago e procedeu nova eleição, quando foram eleitos o Barão de Traipu, seu desafeto, para governador, e o coronel José Vieira Peixoto, primo de Floriano, para vice-Governador.
Manoel Ribeiro, assim era o nome do Barão, é mais uma prova da fragilidade dos quadros republicanos locais e da forte presença de políticos monarquistas no novo regime. As atribulações surgiram no Rio com a saída de Floriano Peixoto. Ó período é de uma nova variante republicana, deixando o militarismo em segundo plano o advento dos setores oligárquicos civis. Ligado oportunisticamente ao florianismo e tendo como base política Penedo e o sertão sanfranciscano, Traipu não percebeu, como faria seu genro Euclides Malta mais tarde, que a hora era de prestigiar ainda mais o setor oligárquicos forte, o açucareiro.
A falta de percepção do deslocamento do eixo da política estadual - ele continuava ligado á base sertaneja tradicional - procrastinando uma reorganização das forças políticas, priorizando uma aliança mais estreita com os proprietários de terras da zona da mata e litoral, fez com que se envolvesse a nova gestão em litígios de senhores de engenho da região norte, como no episódio de Manuel Isidoro, de Jacuípe. Igualmente o crime eleitoral, a inabilidade do Chefe do Executivo e suas divergências com o poder Judiciário, onde predominavam representantes dos grupos agrários mais importantes, fizeram eclodir outra séria crise. A causa imediata foi à nomeação de membros do Judiciário sem consulta a ninguém. Choveram as críticas e a revolta represada ganhou a adesão de oficiais ligados ao ex-governador Gabino Besouro, muitos deles que tinham sido recentemente transferidos para Maceió. Alguns batalhões se amotinaram, grupos civis descontentes se colocaram á frente de uma passeata, cujos líderes invadiram o palácio e cortaram as comunicações.
 O governador, cercado, teve de nomear uma Junta Governativa. Oficiais sediciosos foram á Viçosa de trem para buscar o coronel Apolinário Rebelo, presidente do Senado Estadual, para assumir o governo. Aproveitando um descuido dos rebelados, o Barão escapou e refugiou-se no Hotel Nova Cintra, onde se concentraram seus partidários. O Hotel foi cercado e aconteceu uma verdadeira batalha com vários mortos e feridos.
O Presidente da República, cientificado dos fatos, ordenou que o destacamento federal repusesse o Barão no governo. Prudente de Morais, atendendo a um pedido de Traipu, trocou todo o 26° batalhão federal pelo 33° de Sergipe, uma vez que o primeiro, ligado a Gabino Besouro, se envolveu diretamente na sedição. Restabelecida a ordem pública, com intervenção direta do Palácio do Catete, o titular conseguiu completar o seu tempo e foi substituído pelo Dr. Manoel José Duarte, provedor da Santa Casa de Misericórdia, tendo como vice o coronel Santos Pacheco, proprietário na zona da mata.

 A luta partidária
 (continuou, mas sem a radicalização) de antes. A nova chapa representava uma transição para uma nova era que se implantava no país - a política dos governadores. Nas eleições já se experimentava uma fórmula que harmonizava os interesses das forças tradicionais com a adventícia. A eleição do vice, um plantador de cana da zona da mata, que assumiu parte do mandato do titular, um médico, representante da classe média urbana, que foi eleito para o Senado Federal, já evidenciava uma tendência de harmonização e os frutos das diretrizes da política criada pelo poder central. Administrativamente, do atribulado início republicano nada restou a não ser o apoio de Duarte para a criação do Bispado caeté, uma velha aspiração da comunidade católica.

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