A oligarquia Maltina

Encerrado o ciclo militarista republicano, as oligarquias estaduais ascendem o poder. Em Alagoas, após o hiato tempestuoso de deposições, no governo de Manoel Duarte, sob o influxo dos acontecimentos nacionais, estabelece-se um novo pacto político As bases agrárias ligadas ao açúcar reassumem a liderança das demais frações senhoriais, mesmo sob a batuta de um astuto político sertanejo, Euclides Malta. Agora, com enorme autonomia em cada Estado, impõe-se um sistema oligárquico por intermédio de um dono pessoal ou da família, de um chefe ou de um grupo fechado. Instalado o sistema, os chefes de cada uma delas agem de pleno acordo com o político idealizado pelo presidente Campos Sales, instrumentalizada pelo Partido Republicano, braço eleitoral que opera pelos chamados Comissões Verificadoras, Marginalizando as camadas populares, derrotando os últimos inconformados monarquistas e os republicanos militaristas, assumem o controle governamental nos Estados às elites agrárias que delimitam a representação político em torno de seus componentes; senadores e deputados federais, congressistas estaduais, conselheiros municipais, juízes, intendentes, governadores e vice. Se for feita uma triagem dos detentores de cargos públicos nesse período, encontrar-se-á predominância dos orgulhosos oficiais da Guarda Nacional e de nomes que se repetem ao longo dos anos: Gusmão, Malta, Vieira, Peixoto, Acióli, Gracindo, Miranda, Tenório, Vasconcelos, Cavalcanti, Araújo, Góes, Rego, Holanda, Mendonça, Rebelo, Wanderley, Leite, Oiticica, Cunha, Rego, Santos Pacheco, Sarmento, Lessa, Palmeira, Arroxelas etc. O liberalismo político, construído por uma sociedade agrária, não superou a ambiguidade de sua formação.
A oligarquia Maltina 
 Dura quase uma década e meia é uma longa era de domínio. Euclides, que compreendeu os homens e a época em que vivia, subiu na política por meio dos indispensáveis laços familiares casarem com uma filha do Barão de Traipu. Foi inicialmente constituinte estadual e federal, atrelando-se à corrente de Traipu. Uma vez eleito, organizou uma bem montada máquina administrativa que o tornou líder máximo do Estado até 191 2, em sucessivas reeleições. Dizia um seu biógrafo que não houve em seu tempo quem polarizasse tanto ódio nem atraísse tanto admiração como esse sertanejo de Mata Grande. Inteligente e sagaz transitou em um meio onde pontificavam coronéis semialfabetizados, as chamadas manjeronas, misturados com bacharéis ladinos, os cravos broncos, que serviam de ornamento da orgulhosa classe que dominava o poder. Em tantos anos de dominação, na denominada era Maltina,
Euclides deitou raízes profundas na política alagoana, ligando a sorte de sua carreira à de inúmeros chefes municipais que tinham como questão de honra a lealdade e a troca de amabilidades. Intransigente nas questões que envolviam a manutenção da ordem e manutenção do poder, não era homem de recuos, mas tinha também seu lado diplomático, harmonizador. Quem esperava novas lutas fratricidas e a repetição dos anos de instabilidade da década anterior, surpreendeu-se com a relativa tranquilidade dos primeiros anos da era Maltina, graças ao controle férreo dos pleitos eleitorais e de atos contemporizadores com adversários, sempre atento a questões vitais.Pacificando o grupo hegemônico da política, a classe agrária açucareira, evitou a polarização entre Penedo e Maceió, entre o radicalismo do sogro e seus ferrenhos opositores, afagou os santuários intelectuais, prestigiando o Instituto Histórico, para quem adquiriu sede própria, ajudou as instituições de beneficência, criou uma imprensa situacionista adquirindo para isto parque gráfico próprio, prestigiou a força policial e manteve o povo sempre afastado, como era costume da época, de qualquer instancia de decisão. Deu estabilidade à oligarquia local.
                                                                                                                                                                   Era um caudilho bem sucedido

 Fez da capital o cartão postal de sua administração Construiu o Teatro Deodoro, o Tribunal de Justiça, a praça que tem o nome de Deodoro, concluiu o Palácio dos Martírios, reformou hospitais, construiu inúmeras praças. Desarticulada, a oposição reagia com agressividade, inicialmente sem ressonância, mas gradativamente com o longo exercício do poder, aumentando seu poder de fogo. E evidente que a política de saneamento econômico implantada na esfera federal teve reflexos na sua gestão. Os problemas sociais permaneciam inalterados. Nem tudo era colorido e feliz naquela era os hábitos refinados e costumes europeus próprios da belle époque tropical. Longe dos salões aristocráticos com seu cortejo de endemias frequentes, tangidos pela seca e sua miséria crônica, a Alagoas real tinha suas dores e seus problemas. A indumentária elegante dos políticos e da elite da sociedade caeté que contrariava os rigores climáticos da terra, fascinada com os padrões progressistas do Velho Mundo, igualmente ignorava o que se passava fora dos bairros nobres e dos salões do poder.
Em dois momentos o doce remanso da era euclidiana foi quebrado. No primeiro, quando da eleição de seu irmão Joaquim Paulo para sucedê-lo, a fim de permitir sua volta em seguida, Foi feita uma reforma constitucional para modificar dispositivos da Carta Magna estadual que continha restrição à permuta fraternal. O Barão de Traipu, que tencionava retomar ao cargo, rompeu com o genro e foi a Encerrado o ciclo militarista republicano, as oligarquias estaduais ascendem o poder. Em Alagoas, após o hiato tempestuoso de deposições, no governo de Manoel Duarte, sob o influxo dos acontecimentos nacionais, estabelece-se um novo pacto político As bases agrárias ligadas ao açúcar reassumem a liderança das demais frações senhoriais, mesmo sob a batuta de um astuto político sertanejo, Euclides Malta. Agora, com enorme autonomia em cada Estado, impõe-se um sistema oligárquico por intermédio de um dono pessoal ou da família, de um chefe ou de um grupo fechado. Instalado o sistema, os chefes de cada uma delas agem de pleno acordo com o político idealizado pelo presidente Campos Sales, instrumentalizada pelo Partido Republicano, braço eleitoral que opera pelos chamados Comissões Verificadoras, Marginalizando as camadas populares, derrotando os últimos inconformados monarquistas e os republicanos militaristas, assumem o controle governamental nos Estados às elites agrárias que delimitam a representação político em torno de seus componentes; senadores e deputados federais, congressistas estaduais, conselheiros municipais, juízes, intendentes, governadores e vice. Se for feita uma triagem dos detentores de cargos públicos nesse período, encontrar-se-á predominância dos orgulhosos oficiais da Guarda Nacional e de nomes que se repetem ao longo dos anos: Gusmão, Malta, Vieira, Peixoto, Acióli, Gracindo, Miranda, Tenório, Vasconcelos, Cavalcanti, Araújo, Góes, Rego, Holanda, Mendonça, Rebelo, Wanderley, Leite, Oiticica, Cunha, Rego, Santos Pacheco, Sarmento, Lessa, Palmeira, Arroxelas etc. O liberalismo político, construído por uma sociedade agrária, não superou a ambiguidade de sua formação.

A oligarquia Maltina que dura quase uma década e meia é uma longa era de domínio. Euclides, que compreendeu os homens e a época em que vivia, subiu na política por meio dos indispensáveis laços familiares casarem com uma filha do Barão de Traipu. Foi inicialmente constituinte estadual e federal, atrelando-se à corrente de Traipu. Uma vez eleito, organizou uma bem montada máquina administrativa que o tornou líder máximo do Estado até 191 2, em sucessivas reeleições. Dizia um seu biógrafo que não houve em seu tempo quem polarizasse tanto ódio nem atraísse tanto admiração como esse sertanejo de Mata Grande. Inteligente e sagaz transitou em um meio onde pontificavam coronéis semialfabetizados, as chamadas manjeronas, misturados com bacharéis ladinos, os cravos broncos, que serviam de ornamento da orgulhosa classe que dominava o poder. Em tantos anos de dominação, na denominada era Maltina,
Euclides deitou raízes profundas na política alagoana, ligando a sorte de sua carreira à de inúmeros chefes municipais que tinham como questão de honra a lealdade e a troca de amabilidades. Intransigente nas questões que envolviam a manutenção da ordem e manutenção do poder, não era homem de recuos, mas tinha também seu lado diplomático, harmonizador.
Quem esperava novas lutas fratricidas e a repetição dos anos de instabilidade da década anterior, surpreendeu-se com a relativa tranquilidade dos primeiros anos da era Maltina, graças ao controle férreo dos pleitos eleitorais e de atos contemporizadores com adversários, sempre atento a questões vitais.
Pacificando o grupo hegemônico da política, a classe agrária açucareira, evitou a polarização entre Penedo e Maceió, entre o radicalismo do sogro e seus ferrenhos opositores, afagou os santuários intelectuais, prestigiando o Instituto Histórico, para quem adquiriu sede própria, ajudou as instituições de beneficência, criou uma imprensa situacionista adquirindo para isto parque gráfico próprio, prestigiou a força policial e manteve o povo sempre afastado, como era costume da época, de qualquer instancia de decisão. Deu estabilidade à oligarquia local.
                                                                                                                                                                   Em dois momentos o doce remanso da era euclidiana foi quebrado. No primeiro, quando da eleição de seu irmão Joaquim Paulo para sucedê-lo, a fim de permitir sua volta em seguida, Foi feita uma reforma constitucional para modificar dispositivos da Carta Magna estadual que continha restrição à permuta fraternal. O Barão de Traipu, que tencionava retomar ao cargo, rompeu com o genro e foi atraído pelos núcleos oposicionistas para liderar uma grande frente. Paulistas, duartistas, besouristas, liderados por Fernandes de Lima, tentaram juntar-se para viabilizar um forte grupo anti-malta. O azedamento das relações entre sogro e genro chegou a níveis delicados. Mas as negociações visando à manutenção da estrutura euclidiana foram bem sucedidas, e o Barão de Traipu, Duarte e Wanderley de Mendonça recompuseram-se com Euclides e a crise foi contornada, ficando de fora apenas o grupo de Fernandes Lima e Gabino Besouro, que continuaram no outro lado.

                                          Tiroteio a 10 de maio de 1906
O outro episódio foi por ocasião da campanha eleitoral, quando houve, em pleno centro de Maceió, cerrado tiroteio a 10 de maio de 1906 entre partidários situacionistas e os defensores da chapa oposicionista Gabino Besouro e Guedes Gondim se enfrentaram, envolvendo polícia, milícias particulares, saindo ferido o comandante da Polícia, coronel Salustiano Sarmento, vários alferes e soldados.
O resultado eleitoral demonstrou o completo' domínio de Euclides Malta, reforçado ainda pela visita do presidente eleito, Afonso Pena, a Maceió, em 24 de maio, com o fim de prestigiá-Io. O pacote eleitoral foi bem arrumado, pacificando-se as hostes do governo e permitindo sucessivas reeleições de Euclides, chefe absoluto do poderoso Partido Republicano, que ungia antecipadamente os eleitorais. A longa era Martina só chegaria ao seu final em 1912 com as modificações que sofreu o quadro político nacional e o próprio desgaste diante de tão longa permanência do poder. A campanha civilista agitou o país inteiro e os ventos soprados com a eleição de Hermes da Fonseca trouxeram as Salvações e a derrocada da política dos governadores, varrendo os grupos políticos estaduais, conquistado no poder há mais de uma década. Traído pelos núcleos oposicionistas para liderar uma grande frente. Paulistas, duartistas, besouristas, liderados por Fernandes de Lima, tentaram juntar-se para viabilizar um forte grupo anti-malta. O azedamento das relações entre sogro e genro chegou a níveis delicados. Mas as negociações visando à manutenção da estrutura euclidiana foram bem sucedidas, e o Barão de Traipu, Duarte e Wanderley de Mendonça recompuseram-se com Euclides e a crise foi contornada, ficando de fora apenas o grupo de Fernandes Lima e Gabino Besouro, que continuaram no outro lado.



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