Igreja em Ipioca ganha restauração
Séculos e séculos não foram suficientes para extinguir um
mito que ainda paira sobre os pequenos vilarejos brasileiros que conviveram, lá
pelos idos dos anos 1600, com a presença holandesa. Reza a lenda que, nesses
lugarejos, túneis se encodem por debaixo do chão. Caminhos que, geralmente
iniciados dentro das igrejas, ajudavam os jesuítas a fugir da perseguição do
povo dos Países Baixos.
A comprovação de muitos deles ainda é incerta – segundo o
arquiteto e chefe da Divisão Técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional em Alagoas (IPHAN-AL), Sandro Gama, a existência deles
sequer foi comprovada. Ainda assim, a crença persiste, da mesma maneira que
outra bem popular: a de que parte dos antigos templos católicos teria sido
levantada pelas expedições vindas da Holanda.
Não se sabe se a história dos túneis corre por Ipioca,
povoado ao Norte de Maceió e, datado de 1625, mais antigo que a própria
capital. O da igreja, porém, persiste firme e forte por lá. “Fui um dia desses
e um morador me falou que quem construiu a igreja foram os holandeses. É um
mito. Eles não eram católicos”, diz Sandro, referindo-se a Nossa Senhora do Ó,
no alto da vila, privilegiada entre a visão de coqueirais e do mar que, a
depender do dia, varia entre o verde e o azul. E, depois de momentos difíceis e
mais de 30 anos sem uma reforma, a edificação deve ver surgir uma nova fase em
sua história. Com dinheiro já garantido, foi assinada, no último dia 14, a
ordem de serviço para o reparo completo do local, interditado desde maio de
2013 devido aos sérios problemas estruturais – a gravidade da situação é tanta
que até mesmo o altar e um adorno externo chegaram a desabar.
Mesmo não tombada pelo Iphan e protegida “apenas” por Estado
e município, a recuperação será tocada pelo órgão. Dificilmente o instituto age
em bens que não estão sob sua guarda, até pela grande demanda – em 2015,
Alagoas deve ter 14 obras, boa parte devido ao Programa de Aceleração de
Crescimento (PAC) Cidades Históricas. Mas a proposta foi aceita por um bom
motivo: o aniversário de 200 anos de Maceió.
“Houve uma solicitação do prefeito e consideramos o
aniversário da cidade. Além disso, nossos procedimentos burocráticos seriam
mais rápidos que os do município, até pelo Iphan já ter um campo de
conhecimento muito mais vasto nesse tipo de obra de restauração arquitetônica.
Já era um pleito bem antigo da comunidade”, ressalta o chefe da Divisão Técnica
da entidade.
O projeto, que terá um custo aproximado de R$ 1,8 milhão –
emenda parlamentar do senador Fernando Collor, com apoio do deputado Paulão e
do vereador Silvio Camelo –, foi elaborado pela administração municipal e
engloba aspectos como parte arquitetônica, instalações elétricas e até mesmo a
criação de uma rede de internet sem fio, já que o objetivo do poder público é
transformar a sacristia em núcleo de inclusão.
“A reconstrução e restauração é um marco importante para
todos nós. A igreja é uma referência inserida no contexto histórico da cidade.
A reforma é fruto de uma ação conjunta da bancada federal, dos representantes
do Iphan e do prefeito Rui Palmeira. Particularmente, sinto-me feliz em fazer
parte dessa conquista, que certamente vai fomentar o turismo na região Norte,
seja cultural-religioso ou em virtude das belezas naturais”, aponta o senador.
A obra só não foi iniciada ainda devido a um aspecto
curioso: a Nossa Senhora do Ó passa por outra intervenção. Realizada pela
Secretaria de Estado da Cultura (Secult), a troca da coberta da edificação
acontece, de acordo com a placa instalada na frente da fachada, de maneira
emergencial e, para que as novas operações sejam iniciadas, é necessário que
esse serviço esteja concluído. O chefe da Divisão Técnica do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em Alagoas explica que a legislação
proíbe que duas empresas trabalhem simultaneamente em um mesmo objeto e, por
isso, é necessário aguardar. A conclusão da parte tocada pela Secult deve
ocorrer até o final deste mês, quando a nova equipe poderá ocupar o espaço.
Mesmo com o pequeno entrave, o dinheiro está garantido.
“Esse é um recurso batalhado por muitos anos. Acho que ouço
falar da batalha por essa reforma há muito tempo e há pelo menos uns três anos
a [suplente de senador] Ada Mello nos procura. A ideia era que o Iphan
recebesse o dinheiro e fizesse um convênio com o município, o que acabou não
acontecendo, já que nós vamos executar a reforma. Mas o dinheiro chegou,
repassado pelo MinC [Ministério da Cultura] e já fizemos a licitação”, garante
Sandro.
A intenção é que tudo esteja concluído até dezembro, quando
a capital alagoana completa seu bicentenário de fundação. O contrato é 14
meses, o que poderia empurrar o fim da restauração para março ou abril. Um
acordo, entretanto, está sendo discutido para a antecipação – e a construtora
já acenou positivamente para a possibilidade, apesar da complexidade das
intervenções.
Por: LARISSA BASTOS - REPÓRTER http://gazetaweb.globo.com/
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